12 de julho de 2011

Sabe vô...

... acho que o senhor não tinha noção do quanto iria fazer falta aqui. A dor é grande. Eu tento agarrar as lembranças, ouvir sua voz de novo, com medo de que essas recordações se apaguem da minha memória. Me dói saber que não vou mais escutar o bip do alarme do carro e pensar: "É meu vô", e já ir abrir o portão antes mesmo do sr chamar. Dói saber que não vou mais receber sua bênção sempre precedida de "Paz do Senhor" e depois um "Cada vez mais bonita?", que me arrancava um sorriso. Me dói saber que quando chegar na sua casa no domingo à tarde o sr não vai estar de óculos na copa louvando seus hinos, segurando a pasta, se preparando pra louvar à noite na igreja. Ou te ver entrando na cozinha aqui em casa pedindo só um cafezinho e indo pra casa antes de jantar, porque tinha que ir embora "cuidar". Dói saber que nunca mais vou te ver chegando no Fiat vinho no sábado, um pouco antes de eu sair pro culto; ou no domingo, depois da EBD. Ou que "jovem como a gente é outro papo né?"... "Eu sou eu, jacaré é um bicho!"... "Magrinho como a gente não dá problema, né Patrícia?" ou "Carne de homem não dá pastel...".

O "nunca mais" corrói meu coração, o martela em mil pedacinhos. Eu choro por sua falta, por essa separação temporária em saber que não vou olhar mais em seus olhos verdes por aqui. Em saber que nas reuniões de família o sr não vai mais puxar a roda de oração pelo agradecimento do almoço. Que não vou ouvir mais seus casos antigos, os acontecimentos em Martins, ou os milagres que viu na tv mais cedo.

Porém sei onde você está, e seu semblante sereno diz que esse lugar é muito melhor do que vivemos aqui.

"Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá." João 15:25

Até breve vô!

6 de março de 2011

Lar, doce lar


16/01/2011

Uma noite de terça-feira corriqueira se não fosse o fato de que sua casa; seu lar, doce lar; se desmoronasse. Para outros esta mesma noite de terça-feira foi recheada de cerveja e muita dança para comemorar a entrada em uma outra casa.
Os heróis que viram suas casas carregadas por toneladas de barro não foram os que tiveram prestígio e destaque no mundo global. Os heróis para eles são aqueles que abrem mão de sua "privacidade" pelo conforto da casa e fama momentânea. E quem sabe alguma revista para posar ou alguns convites para festas vip's certo tempo depois. Os heróis que morreram soterrados junto com seus sonhos e histórias e outros que abriram mãos de suas vidas para salvar quem ao menos sabia o nome, para o mundo global, só servem para preencher o intervalo do plantão.
As câmeras devassam o espaço de confinamento e saciam os olhos atentos dos espectadores que deitados no conforto de seus sofás dão uma "espiadinha" na casa. Ainda hoje os verdadeiros heróis dormem amontoados em colchões no chão nos abrigos comunitários dividindo sua privacidade e também histórias que agora ficaram na lembrança, não por dinheiro, holofotes ou flash's, e sim pela necessidade, gratos por ainda terem fôlego para respirar. O lixo e sujeira dos desmoronamentos que inundaram as casas dos verdadeiros heróis não é muito diferente daquele que é depositado em seu lar e na mente dos seus filhos enquanto você "espia" contribuindo para a imoralidade e falta de valores. Viver na ilusão e não encarar a realidade evitando mudanças é mais cômodo para todos, embora não seja o sensato.